Trabalhadores do transporte urbano entram em greve por tempo indeterminado
Categoria está desde Abril sem Plano de Saúde e sem Ticket Alimentação, e o patronal não disponibiliza aos trabalhadores os EPIs para evitar o Covid-19
Publicado: 29 Outubro, 2020 - 18h32 | Última modificação: 29 Outubro, 2020 - 22h38
Escrito por: Socorro Silva-CUT-PI
Os trabalhadores do Transporte urbano de Teresina, retornam a greve geral por tempo indeterminado ás 00:00h desta quarta-feira (28), a greve teria sido suspensa até que confirmasse o cumprimento da ordem do TRT, que determinava o pagamento para a categoria do Plano de Saúde, e Ticket Alimentação.
Os trabalhadores denunciam que há falta de Equipamentos de EPIs que não estão sendo fornecidos, como Máscaras, Álcool em Gel, e o não cumprimento dos 30% da MP 936/2020, que institui o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, e reclamam da falta da proteção dentro do ônibus para os motoristas e cobradores, além de locais apropriados nos finais de linhas, onde precisam fazer suas necessidades, lavar suas mãos, beber água, e falta a estrutura adequada para esses fins, deixando os trabalhadores na rua, sem segurança, no calor e no sol.
Ajuri Dias - Presidente do SINTETRO-PI " A motivação que nos leva a acatar a vontade dos trabalhadores em retomar a greve suspensa, é devido a falta de dialogo com a parte patronal relacionada a questão da negociação do dissídio coletivo do ano de 2020, infelizmente ao longo das negociações nós fomos barrados por diversas situações de desconforto por parte patronal, sempre querendo tirar o que nós temos, e aquilo que nós conseguimos ao longo do tempo. Temos enfrentado muitas dificuldades desde o inicio da pandemia do Covid-19, em março deste ano, o que afetou diretamente a classe trabalhadora do sistema de transporte urbano de Teresina, e a partir daí os trabalhadores não receberam seus salários, e nem seus benefícios, nós tinhamos um acordo coletivo negociado e assinado pelo ex-presidente do Sintetro, Fernando Santos (Feijão) junto ao sindicato patronal, esse compromisso assinado entre os dois presidentes é referente ao acordo coletivo do corrente ano 2020 e 2021, eles pagaram até março o salário dos trabalhadores de forma integral e os benefícios, em seguida até hoje nós não recebemos nossos salários de forma correta, e não estamos recebendo os benefícios, eles fizeram a adesão a MP-936/2020, e também não estão pagando os 30%, estamos sem o nosso plano de saúde e sem o ticket alimentação, infelizmente a nossa categoria vem passando por momentos dificeis". Disse.
Segundo Ajuri Dias "Alguns trabalhadores foram demitidos em plena pandemia, outros fizeram acordo, e hoje nós temos uma margem de quase 600 trabalhadores demitidos no sistema, infelizmente essa situação tem trazido desconforto a todos os trabalhadores, hoje a realidade é muito sofrida temos trabalhadores passando necessidade, outros estão se unindo para ajudar aos companheiros fazendo vaquinhas e doações de cestas básicas para que os companheiros possam estar sobrevivendo, e nós precisamos esclarecer para a sociedade que precisa absorver essa dura realidade, pois muitas das vezes não é vista com bons olhos uma greve no sistema de transporte, a imagem que é feita da categoria é diferente do que estamos vivenciando, nós estamos lutando para garantir nossos direitos, nós temos um termo que garante a convenção coletiva e os nossos salários de forma integral, e que garante os nossos benefícios, pedimos a adesão da sociedade a nossa causa, pedimos aplausos a esses guerreiros do sistema, o reconhecimento a esses grandes trabalhadores que estão enfrentando, e suportando toda essa situação, são 8 meses sem receber seus salários, e nós estamos resistindo, e voltamos a greve por saber que ela é justa, os empresários estão recebendo o dinheiro do governo federal e não repassam o que é devido para os trabalhadores, pedimos o apoio e a compreensão de toda a sociedade". Citou.
O SINTETRO lamenta a postura do Prefeito de Teresina Firmino Filho, por não tomar uma atitude em favor dos trabalhadores do sistema de transporte que possa dar fim a greve, para que haja um acordo e possa se resolver essa situação, para que os trabalhadores possam ter uma qualidade de vida digna, e que se possa ter a garantia de se oferecer uma prestação de serviço de qualidade para os usuários do transporte urbano da capital, lembrando que além dessa situação, ainda há o risco da contaminação do Covid-19 devido a aglomeração de passageiros, tendo em vista que os empresários estão reduzindo a frota dos ônibus. A greve segundo o presidente do Sintetro "é a única saída para que os trabalhadores possam receber seus salários e seus benefícios". Lamenta, Ajuri Dias.
Essa é a segunda vez neste mês que a categoria cruza os braços. Anteriormente, o juiz do Trabalho início Wagner Nery Araújo Cruz havia dado decisão favorável ao Sintetro (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários no Estado do Piauí). Entretanto, o Setut (Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina) recorreu da decisão ao TST (Tribunal Superior do Trabalho), que suspendeu a decisão do TRT. Assim, o caso volta ao TRT para ser apreciado pelo pleno com os demais desembargadores.
O TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 22ª Região determinou que as empresas teriam que pagar os benefícios atrasados aos trabalhadores rodoviários, a determinação foi publicada em 13 de outubro de 2020, com dez dias para cumprimento. Caso as empresas descumprissem o que foi decidido pelo Tribunal, a multa seria de R$ 5 mil por dia até que se atingisse o limite de R$ 100 mil. Com a decisão favorável, a greve de ônibus em Teresina foi suspensa no último dia 14 de outubro, porém chegando ao prazo limite que seria nesta quarta (28), os empresários não cumpriram e a greve foi retomada por tempo indeterminado.
A proposta do patronal apresentada para os trabalhadores é que sejam demitidos os cobradores, e os motoristas assumam a dupla função, proposta esta que o Sintetro rejeitou em respeito a todos os trabalhadores do sistema, antes mesmo de realizar assembleia para apresentar tamanho desrespeito e afronta aos pais de família que vem lutando dia a dia para tirar o seu sustento.
ENTENDA:
O Sintetro (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários) decidiu pela paralisação no sábado, 23 de outubro de 2020, após as empresas de ônibus, por meio do Setut (Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina), terem conseguido reverter uma determinação judicial que obrigava o pagamento do ticket alimentação e plano de saúde.
No dia 13 de outubro de 2020, o juiz Carlos Wagner Araújo Nery da Cruz, do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), atendeu ação do sindicato dos trabalhadores determinando ticket alimentação R$ 584,89 para motoristas, R$ 465,56 para os cobradores, fiscais e despachantes; e R$ 373,64 para os demais trabalhadores, ainda de acordo com a determinação, o plano de saúde teria 60% de custeio por parte das empresas e 40% dos trabalhadores.
Sendo que desta vez o movimento paredista está sendo feito fora das garagens das empresas, e não como o SETUT vem relatando para a imprensa local, onde acusa que os trabalhadores estão sendo impedidos de exercerem as suas funções, e que existe impedimento dos ônibus sairem das garagens, acusando o Sintetro de estar causando obstrução. O Sintetro por sua vez se defende, que esta acusação não tem fundamento e esclarece que os trabalhadores tem o livre arbitrio de ir e vir, a categoria tem todo o direito de reivindicar o cumprimento do que lhes é devido, se decidiram cruzar os braços e lutar pelo seus direitos, estarão assistidos pelo sindicato que os representa.
Os trabalhadores aguardam o julgamento em plenário pelo Tribunal Regional do Trabalho no Piauí (TRT-PI), que discutirá o dissídio coletivo de natureza econômica envolvendo os benefícios do ticket alimentação e do plano de saúde.